Lendas e superstições e verdades
Folhas de canela
Ademar Vidal
Nos tempos antigos existia a preocupação de plantar-se a canela no quintal das casas residenciais. Não havia família que não contasse com o sabugueiro, a hortelã de folha pequena e a canela nos seus jardins, enfeitando-os e, sobretudo, tornando-se úteis para uso do povo de casa: servem ainda agora de meizinha para muita doença menos perigosa como enxaqueca ou dor de cabeça, febre de constipação, estômago embrulhado ou tonturas, dores de barriga.
Mas a canela serve também para outra coisa. Como ficou dito acima, os pais botam as suas folhas espalhadas por toda a casa, a fim de que sejam pisadas pelos convidados no dia do consórcio dos filhos, ou das pessoas queridas da família. Canela quer dizer felicidade. A tradição que ela carrega é de que traz mesmo felicidade para quem a usa nos instantes solenes da velha vida. E casamento é, sem dúvida, dos mais altos ou apresenta-se como um dos eventos mais significativos da existência do homem. Por isso as folhas de canela são postas no chão para serem esmagadas pelos pés dos parentes e amigos.
A homenagem tem significação particular. Procede dos lusitanos. Foram estes que trouxeram o velho costume para o Brasil nordestino, costume que até hoje é seguido por aqueles que gostam de guardar a tradição com as recomendações, preceitos e detalhes do rito matrimonial. Alias, a folha de canela se encontra também noutras reuniões de alegria: nos batizados, nos aniversários festivos.
Conta-se que a origem desse hábito vem de um fidalgo bragantino. Ia casar a filha única, era bem rico, então mobilizou todas as suas forças para o ato da grave cerimônia, o qual desejava fosse o mais brilhante possível. É senão quando uma mendiga compareceu à festa de saco às costas: trazia a sua contribuição através de folhas de canela, desde que esta tradicionalmente só fazia ajudar a saúde e, fazendo bem à saúde, eram os votos de felicidade o que mais poderia proporcionar, como pobre, aos que iam unir-se pelos laços do matrimônio. O gesto tornou-se apreciado e seguido pelo mundo em derredor. Realmente, se a canela ocupava lugar de grande beneficiadora, sustentando a saúde e, pois, fazendo o maior benefício individual, por certo que poderia ser dirigida simbolicamente, no tempo e no espaço, como portadora de votos venturosos para os que vão casar.
Modificou-se um pouco o significado primitivo do costume de presentear-se remédio que fizesse bem à saúde. Enquanto os convidados levavam as suas dádivas de botica, sendo o hábito português até hoje não esquecido [1], a estranha mendiga viu na canela uma forma diferente de homenagear — e viu com acerto. Depois é que se começou, talvez pela abundância de folhas, e, ainda, pelo agradável perfume que se desprende da canela, o atapetamento da igreja e da casa nupcial. Assim, da modesta atitude da mais humilde das criaturas, adveio o costume que os séculos não conseguiram destruir ou, antes e cada vez mais, pelo menos em alguns pontos do Nordeste, se consolidou, revigorando-se em forças de convicção portadoras de afeto e votivos desejos de felicidade.
Nota
1. Até no Rio de Janeiro a tradição é seguida pelas famílias originárias de Pernambuco e de outros Estados do Nordeste. Há pouco tempo o autor deste livro esteve em um casamento, realizado no bairro do Jockey Club — e ficou surpreendido em ver o chão da opulenta residência dos pais da noiva todo coberto de folhas de canela, que, diga-se de passagem, é encontrada em abundância no Jardim Botânico da grande metrópole.
A lembrança partira do amor dos chefes patriarcais. Não fosse a família José Cândido Miranda nordestina da gema.
http://www.jangadabrasil.com.br/temas/fevereiro2010/te13302g.asp
http://palavroeiro.wordpress.com/2012/02/09/alzheimer-nao-tem-cura-sera/
MedicinaDoEstiloDeVida.com.br
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