Foco no conilon
renovação dos cafezais e produtores inspirados estão mudando a cara – e o gosto – do café capixaba
por Hanny Guimarães | Fotos Roberto Seba, do Espírito Santo
Conilon especial na xícara |
Corpo elevado; acidez; características de cacau,
frutas vermelhas e amarelas
O produto do cafeicultor Luís Carlos da Silva Gomes foi arrematado por quem entende de cafés de qualidade. O empresário Henrique Cambraia, dono da torrefadora mineira Santo Antonio Estate Coffee, faz parte da Associação Brasileira de Cafés Especiais (Brazil Specialty Coffee Association, ou BSCA) e comprou 20 sacas de conilon cereja descascado para misturar com o arábica de sua produção.
O blend,
lançado neste mês de junho,
indica o início de um novo status para a planta,
antes discriminada.
O reconhecimento reflete o momento da cafeicultura no Espírito Santo. O conilon completa 100 anos de existência no Estado em 2012, mas apenas 40 anos de cultivo comercial. Em 1965, devido à elevada produção mundial, originando uma oferta que superava a demanda, 53% do parque cafeeiro foi erradicado. Na década de 1970, o grão voltou e a meta era aumentar a produção.
O pobre conilon
era tido até como veneno na época.
Desestimulados, os produtores não tinham para quem vender. A virada veio com a instalação de uma fábrica de café solúvel, a Realcafé, quando seus representantes disseram: “Podem produzir que nós compramos”. O grão estava no jogo novamente. EVOLUÇÃO
Neste ano, a safra deve chegar a 9,3 milhões de sacas, o que representa 76% do conilon colhido no país. “Se continuarmos nesse ritmo,
vamos chegar a 18 milhões de sacas em sete anos”,
afirma o secretário de Agricultura, EnioBergoli. O produto é exportado para 26 países, entre eles EUA, México, Alemanha, Bélgica, Holanda e Argentina. A saca está sendo comercializada a R$ 240 e somente o conilon é responsável por 30% da renda rural capixaba. “Nosso café evoluiu”, comemora o pesquisador Romário Gava Ferrão, coordenador estadual do Programa de Cafeicultura. De 1993 até agora, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) já desenvolveu seis variedades e no próximo ano deve lançar mais três. As plantas, mais resistentes à seca e produtivas, ajudaram a impulsionar o cultivo e neste novo passo resultam em frutos que proporcionam uma bebida melhor. “A busca é por materiais com maior quantidade de açúcares e menor teor de amargor”, explica.
O crescimento inspira produtores a iniciar a segunda fase do conilon. O foco agora é aumentar a produtividade, mas de olho na qualidade. Estimulados pelos pesquisadores, alguns deles estão melhorando o manejo das plantas, renovando o cafezal e, em consequência, alcançando até 100 sacas por hectare, enquanto a média do Estado é de 30 sacas por hectare. Cerca de 50% das lavouras já foram renovadas e o ritmo de substituições é entre 7% e 8% ao ano.
Na propriedade de Luís Carlos, as pesquisas estão sendo colocadas em prática e estão rendendo mais que a escolha do grão para compor o blend inédito de café especial com conilon. Há três anos, ele animou mais dois amigos cafeicultores, Sérgio Soares da Silva e Marcelo Cortelette, a investir na produção de qualidade. No início, foram chamados de malucos. “Os colegas da região diziam: ‘Não vale a pena fazer melhor, porque o mercado não está pagando’. E nós retrucávamos: ‘Não, paga sim’.” A valorização veio.
A saca do conilon cereja descascado – o descascamento ainda é um processo adotado por poucos, mas que está ganhando espaço, visto que agrega valor ao produto final – vale, em média, 20% mais que a do grão comum.
A renovação dos cafezais movimenta a unidade de mudas da Cooabriel, em São Gabriel da Palha
MICROLOTE
Cheio de planos, ele deseja criar um microlote de conilon e quer vender a preço de arábica gourmet, cerca de R$ 600. “Quando a gente pensa, tem de ser grande”, brinca. No próximo ano, vai iniciar a colheita seletiva em busca de grãos com peneira acima de 15, quando o mais comum na produção de conilon é peneira 13. O novo foco une toda a cadeia do fruto no Estado. As cooperativas também estão empenhadas em remunerar melhor, porque sabem do investimento do produtor. “Precisamos diferenciar nosso conilon, agregar valor. Esse movimento está apenas começando, e nós temos a vantagem de sair na frente”, diz Daniel Piazzini, da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi). A associação reúne os cafés dos produtores da região e comercializa em mercados que estão buscando o diferencial. “Fechamos um negócio de 2.560 sacas para a Rússia em maio. O elo está se fortalecendo cada vez mais”, comemora.
O produto exportado para a Rússia passou pelo laboratório de provas CoffeeQualityInstitute (CQI), entidade americana que instalou o espaço, em parceria com a empresa Conilon Brasil, na capital, Vitória. Criado há apenas três anos, o lugar, onde também são realizados cursos para os profissionais da área, é o primeiro da América Latina especializado na classificação de cafés conilon, tamanha a dimensão que o grão está tomando no mercado. Técnicos do laboratório participaram de diversos treinamentos e desenvolveram um padrão de bebida mundial para cafés robusta. O modelo, além do Brasil, tem sido utilizado por países consumidores como EUA, Japão, Coreia do Sul, países europeus e ainda pelos produtores Índia, Uganda e Indonésia. “É uma ferramenta tanto para o comerciante quanto para o produtor”, diz o gerente de marketing da Conilon Brasil, Arthur Fiorott.
O padrão não só avalia a bebida, com degustação das amostras enviadas pelos produtores, por meio das prefeituras, mas também as boas práticas agrícolas realizadas pelo cafeicultor. Pelo projeto Conilon Especial, são analisadas todas as etapas da produção. O objetivo é melhorar a qualidade e também a responsabilidade ambiental e social da cadeia produtiva. Os ganhos são muitos para quem produz e para quem consome. “Quando você faz um processo bem-feito, o conilon tem muito mais nuances de sabor e aroma, e o cliente certamente paga mais por isso”, afirma o diretor Adelino Thomazini.
Brasil festeja o Dia Nacional do Café
A data simboliza o início da colheita em grande parte das regiões cafeeiras e é celebrada por toda a cadeia produtiva
Os brasileiros são tão apaixonados por café que esta bebida tem, desde 2005, uma data especial para ser comemorada: 24 de Maio, o Dia Nacional do Café, estabelecida pela Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic).
A data simboliza o início da colheita em grande parte das regiões cafeeiras e é celebrada por toda a cadeia produtiva e pela pesquisa.
Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil é também o segundo maior mercado consumidor, só superado pelos Estados Unidos. Dados da Organização Internacional do Café (OIC), mostram que na safra de 2011 o Brasil respondeu por 32% das exportações de café em grão no mundo. No mesmo ano, o consumo per capita foi o maior já registrado no Brasil: 4,88 quilos de café torrado, quase 82 litros para cada brasileiro.
Hoje, o café é considerado benéfico à saúde, segundo a Abic. Estudos mostram que a bebida pode atuar na prevenção do câncer de cólon e reto, doença de Parkinson e de Alzheimer, apatia e depressão, obesidade infantil, entre outras doenças. Uma das mais recentes pesquisas diz que o consumo de três xícaras de café, normal ou descafeinado, por dia, reduz em 10% o risco de adultos entre os 50 e os 71 anos de idade adquirir doenças cardio-vasculares e respiratórias, de AVC, de ferimentos, de diabetes ou de infecções.
A data simboliza o início da colheita em grande parte das regiões cafeeiras e é celebrada por toda a cadeia produtiva e pela pesquisa.
Maior produtor e exportador de café do mundo, o Brasil é também o segundo maior mercado consumidor, só superado pelos Estados Unidos. Dados da Organização Internacional do Café (OIC), mostram que na safra de 2011 o Brasil respondeu por 32% das exportações de café em grão no mundo. No mesmo ano, o consumo per capita foi o maior já registrado no Brasil: 4,88 quilos de café torrado, quase 82 litros para cada brasileiro.
Hoje, o café é considerado benéfico à saúde, segundo a Abic. Estudos mostram que a bebida pode atuar na prevenção do câncer de cólon e reto, doença de Parkinson e de Alzheimer, apatia e depressão, obesidade infantil, entre outras doenças. Uma das mais recentes pesquisas diz que o consumo de três xícaras de café, normal ou descafeinado, por dia, reduz em 10% o risco de adultos entre os 50 e os 71 anos de idade adquirir doenças cardio-vasculares e respiratórias, de AVC, de ferimentos, de diabetes ou de infecções.
Pablo Picasso
Li
Fonte:
http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,EMI308132-18283,00-FOCO+NO+CONILON.html
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