quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

FRANS KRAJCBERG - O GRITO DA NATUREZA


 
Krajcberg - O Grito da Natureza 

tvbrasil
Paula Saldanha e Roberto Werneck foram ao sul da Bahia para contar,
 no programa Expedições, a história do artista polonês naturalizado brasileiro Frans Krajcberg 
e suas impressionantes esculturas. Assista à reportagem!

06/04/2013 - 11h45m

Krajcberg, o grito da Natureza

Expedições entrevista Frans Krajcberg,
 artista consagrado mundialmente que completa 92 anos em abril 

No Expedições deste sábado (06), às 12h30, na TVE, Paula Saldanha eRoberto Werneckviajam para o Extremo sul da Bahia, região dos manguezais de Nova Viçosa, e visitam Frans Krajcberg. Desde 1972, o artista trabalha incessantemente em seu sítio, Natura, produzindo esculturas impressionantes.
O fascínio pela natureza do Brasil marcam a trajetória do pintor e escultor polonês, naturalizado brasileiro. Krajcberg dedica sua arte à contestação e à denúncia contra a destruição das florestas e a ameaça aos territórios indígenas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Krajcberg lutou no exército da Polônia. Participou da tomada de Berlim, com os soviéticos. Foi condecorado com a  Medalha da Cidade de Paris. Contudo, no retorno à Polônia, não tinha mais casa e nem família.
Buscou refúgio na Alemanha, onde estudou com grandes mestres. Foi para Paris, capital das artes no século XX. Conheceu Legér e Marc Chagall – que sugeriu que ele migrasse para o Brasil.
Krajcberg chegou ao Brasil em 1948 e se estabeleceu em São Paulo. Na década de 1950, viveu entre Rio de Janeiro, Paris e Ibiza. Produziu seus primeiros trabalhos, fruto do contato direto com a natureza.
Em 1957, conquistou o prêmio de melhor pintor nacional na Bienal de São Paulo e na Bienal de Veneza, em 1964. Na década de 60, morou em uma caverna na região de Itabirito, no interior de Minas Gerais, enquanto produzia, incessantemente suas pinturas e gravuras.
Krajcberg participa do movimento Naturalismo Integral, junto com outros nomes do cenário cultural da França, que propõe trabalhar “com”, “sobre” e “na” natureza. Mas trata-se, sobretudo, de viver em harmonia.

Krajcberg e seu grito pela natureza

Mostra na Bahia reúne esculturas,

 relevos e fotos que buscam chamar atenção para devastação

07 de abril de 2011 | 0h 00

Tiago Décimo - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / SALVADOR
Críticas. Krajcberg também é tema de documentário - Janete Longo/AE

Janete Longo/AE
Críticas. Krajcberg também é tema de documentário
Prestes a completar 90 anos (no dia 12), o artista-ativista ambiental nascido na Polônia, naturalizado brasileiro e radicado na Bahia, Frans Krajcberg ouve com dificuldade, move-se e fala vagarosamente. Não perde, porém, o raciocínio rápido nos ataques contra o que considera errado no planeta.
Seus alvos são a própria sociedade, os chamados formadores de opinião e, até, seus colegas.

"Ninguém fala nada sobre a destruição da natureza 
 - e dos povos da natureza - porque ninguém conhece 
essa realidade nem quer conhecer", 
reclama.
É com essa preocupação que Krajcberg montou, ao longo de quase cinco décadas, seu trabalho. São esculturas, fotografias, pinturas, gravuras e filmes que usam a natureza morta de troncos e raízes queimados em áreas de devastação da Amazônia e do Pantanal para, em imagens de muita força, tentar despertar uma nova relação do espectador com o tema preservação ambiental. No momento, está em construção o Museu Ecológico Frans Krajcberg, um projeto de cinco pavilhões para mostrar a sua trajetória.

Hoje, o artista ganha mais um espaço para exercer sua crítica em forma de arte. A exposição Grito! Ano Mundial da Árvore reúne 13 esculturas, 8 relevos e 16 fotografias e todas as obras têm como base árvores consumidas pelo fogo. Para marcar o início da mostra, Krajcberg plantou uma muda de pau-brasil no terreno do Palacete das Artes Rodin Bahia.

Flor do Mangue, uma de suas esculturas mais conhecidas, de 1965, recebe os visitantes, ainda do lado de fora da Sala Contemporânea do palacete, onde a mostra será realizada até 5 de junho. A obra, de 5 m de altura e diâmetro de entre 8 e 12 m, foi feita apenas um ano depois de o artista começar a usar restos de árvores em suas obras. E ajudou a definir seu estilo e os rumos de sua produção até hoje.

"Minha criação é minha revolta contra o barbarismo 
que praticam contra a floresta e um alerta ao povo brasileiro", 
conta ele.

 "Minha luta é para incentivar 
que o brasileiro conheça o seu país e os seus dramas."
Em sua batalha contra a alegada alienação da sociedade sobre os ataques ao meio ambiente, em nome do desenvolvimento, Krajcberg não poupa críticas à imprensa, pelo suposto "silêncio" sobre o tema, e à própria classe artística.

"Falar sobre movimento artístico neste novo século é muito sério, porque se a arte não manifesta a realidade de seu século, a que ela se presta? Só ao mercado", avalia.

Além da exposição, a semana também marca a estreia do documentário O Grito Krajcberg, produção independente da jornalista baiana Renata Rocha, de 29 anos. A obra é baseada em três anos de acompanhamento dos trabalhos do artista e de entrevistas dele e de alguns amigos, como a atriz Christiane Torloni e o artista plástico baiano Emanoel Araújo. A narração é feita pela cantora Maria Bethânia. 

Frans Krajcberg

Franz Krajcberg
Nome completo Franz Krajcberg
Nascimento 12 de abril de 1921 (92 anos)
Kozienice
Nacionalidade Polónia polonês
Ocupação escultor, pintor e artista plástico

Frans Krajcberg (Kozienice, 12 de abril de 1921) é um pintor, escultor, gravador e fotógrafo, artista plástico nascido na Polônia e naturalizado brasileiro.

Em 2008, recebeu o grande prêmio da APCA.1

Vida


Espaço Frans Krajcberg, em Curitiba. Foto:Sam Emerick/flickr
Durante a Segunda Guerra Mundial (1938-1945) em 1939, Krajcberg buscou refúgio na União Européia, onde estudou engenharia e artes na Universidade de Intgrad. Residiu na Alemanha prosseguindo seus estudos na Academia de Belas Artes de Stuttgart.

Chegou ao Brasil em 1948, vindo a participar da oitava Bienal de São Paulo, em 1951. Durante a década de 1940 o seu trabalho era abstrato.

De 1948 a 1954 viveu entre as cidades de Paris, Ibiza e Rio de Janeiro, onde produziu os seus primeiros trabalhos fruto do contato direto com a natureza. Na década de 1950 morou em uma caverna no Pico da Cata Branca, região de Itabirito, no interior de Minas Gerais. Ali na região, à época, era conhecido como o barbudo das pedras, uma vez que vivia solitário, sem conforto, tomando banho no rio vizinho, enquanto produzia, incessantemente, gravuras e esculturas em pedra.

Em 1956, muda-se para o Rio de Janeiro, onde divide o ateliê com o escultor Franz Weissmann (1911 - 2005). Naturaliza-se brasileiro no ano seguinte.2

Em 1964, executou as suas primeiras esculturas com madeiras de cedros mortas. Realizou diversas viagens à Amazônia e ao Pantanal Matogrossense, fotografando e documentando os desmatamentos, além de recolher materiais para as suas obras, como raízes e troncos calcinados. Na década de 1970 ganhou projeção internacional com as suas esculturas de madeira calcinada.

A sua obra reflete a paisagem brasileira, em particular a floresta amazônica, e a sua constante preocupação com a preservação do meio-ambiente. Atualmente, o artista tem se dedicado à fotografia.

O Sítio Natura


Trabalhos de Frans Krajcberg na mostra Natura, em São Paulo.
Krajcberg está radicado desde 1972 no sul da Bahia, onde mantém o seu ateliê no Sítio Natura, no município de Nova Viçosa. Chegou ali o convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas, que o ajudou a construir a habitação: uma casa, a sete metros do chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. À época Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia chegou a reunir nomes como os de Chico Buarque, Oscar Niemeyer e Dorival Caymmi.

No sítio, uma área de 1,2 km², um resquício de Mata Atlântica e de manguezal, o artista plantou mais de dez mil mudas de espécies nativas. O litoral do município é procurado, anualmente, no inverno, por baleias-jubarte. No sítio, dois pavilhões projetados pelo arquiteto Jaime Cupertino, abrigam atualmente mais de trezentas obras do artista. Futuramente, com mais cinco construções projetadas, ali se constituirá o Museu que levará o nome do artista.

Ativismo ecológico

Ao longo de sua carreira, o artista:
  • denunciou queimadas no estado do Paraná;
  • denunciou a exploração de minérios no estado de Minas Gerais;
  • denunciou o desmatamento da Amazônia brasileira;
  • defendeu as tartarugas marinhas que buscam o litoral do município de Nova Viçosa para desova;
  • postou-se na frente de um trator para evitar a abertura de uma avenida na cidade de Nova Viçosa.


Amazônia constitui hoje, sobre o nosso planeta, 
o "último reservatório", refúgio da natureza integral.
Que tipo de arte, qual sistema de linguagem pode suscitar uma tal ambiência - excepcional sob todos os pontos de vista, exorbitante em relação ao senso comum? Um naturalismo do tipo essencialista e fundamental, que se opõe ao realismo e à própria continuidade da tradição realista, do espirito realista, além da sucessão de seus estilos e de suas formas. O espirito do realismo em toda a historia da arte não é o espirito da pura constatação, o testemunho da disponibilidade afetiva. O espirito do realismo é a metáfora; o realismo é, na verdade, a metáfora do poder: poder religioso, poder do dinheiro na época da Renascença, em seguida poder politico, realismo burguês, realismo socialista, poder da sociedade de consumo com a pop-art.

O naturalismo não é metafórico. Não traduz nenhuma vontade de poder, mas sim um outro estado de sensibilidade, uma maior abertura de consciência. A tendência à objetividade do "constatado" traduz uma disciplina da percepção, uma plena disponibilidade para a mensagem direta e espontânea dos dados imediatos da consciência. Como no jornalismo, mas sendo este transferido ao domínio da sensibilidade pura, "o naturalismo é a informação sensível sobre a natureza". Praticar esta disponibilidade ante o natural concedido é admitir a modéstia da percepção humana e suas próprias limitações, em relação a um todo que é um fim em si. Essa disciplina na conscientização de seus próprios limites é a qualidade primeira do bom repórter : é assim que ele pode transmitir aquilo que vê - "desnaturando" o menos possível os fatos.

O naturalismo assim concebido implica não somente maior disciplina da percepção, mas também maior na abertura humana. No final das contas a natureza é, e ela nos ultrapassa dentro da percepção de sua própria duração. Porém, no espaço-tempo da vida de um homem, a natureza é a medida de sua consciência e de sua sensibilidade.

O naturalismo integral é alérgico a todo tipo de poder ou de metáfora de poder. O único poder que ele reconhece é o, poder purificador e catártico da imaginação a serviço da sensibilidade, e jamais o poder abusivo da sociedade.

Este naturalismo é de ordem individual. A opção naturalista oposta à opção realista é fruto de uma escolha que engaja a totalidade da consciência individual. Essa opção não é somente critica, ela não se limite a exprimir o medo do homem frente ao perigo que corre a natureza pelo excesso de civilização industrial e a consciência planetária. Ela traduz o advento de um estado global da percepção, a passagem individual para a consciência planetária. Nos vivemos uma época de balanço dobrado. Ao final do século se junta o final do milênio, com todas as transferências de tabus e da paranóia coletiva que esta concorrência temporal implica - a começar pela transferência do medo do ano 1000 sobre o medo do ano 2000, o átomo no lugar da peste.

Vivemos, assim, uma época de balanço. Balanço do nosso passado aberto sobre nosso futuro. Nosso Primeiro Milênio deve anunciar o Segundo. Nossa civilização judaico-cristã deve preparar sua Segunda Renascença. A volta do idealismo em pleno século XX supermaterialista, a volta de interesse pela historia das religiões e a tradição do ocultismo, a procura cada vez maior por novas iconografias simbolistas: todos esses sintomas são conseqüência de um processo de desmaterialização do objeto, iniciado em 1966, e que é o fenômeno maior da historia da arte contemporânea no Ocidente.

Apôs séculos de "tirania do objeto" e seu clímax na apoteose da aventura do objeto como linguagem sintética da sociedade de consumo - a arte duvida de sua justificação material, ela se desmaterializa, se conceitua. Os andamentos conceituais da arte contemporânea só têm sentido se examinados através dessa ótica autocrítica. A arte é ela mesma colocada numa posição critica. Ela se questiona sobre sua imanência, sua necessidade, sua função.

O naturalismo integral é uma resposta. E justamente por sua virtude de integracionista, de generalização e extremismo da estrutura da percepção, ou seja, da planetarização da consciência, hoje ela se apresenta como uma opção aberta - um fio diretor dentro do caos da arte atual. Autocrítica, desmaterialização, tentação idealista, percursos subterrâneos simbolistas e ocultistas: essa aparente confusão se organizará talvez um dia, a partir da noção do naturalismo - expressão da consciência planetária.

Esta reestruturação perceptiva refere-se á uma real mudança e a desmaterialização do objeto de arte, sua interpretação idealista, a volta ao sentido oculto das coisas e sua simbologia constituem um conjunto de fenômenos que se inscrevem como um preâmbulo operacional à nossa Segunda Renascença - etapa necessária para uma mutação antropológica final.

Hoje, vivemos dois sentidos da natureza: aquele ancestral, do "concedido" planetário, e aquele moderno, do "adquirido" industrial e urbano. Pode-se optar por um ou outro, negar um em proveito do outro; o importante é que esses dois sentidos da natureza sejam vividos e assumidos na integridade de sua estrutura antológica, dentro da perspectiva de uma universalização da consciência perceptiva - o Eu abraçando o mundo, fazendo dele um uno, dentro de um acordo e uma harmonia da emoção assumida como a única realidade da linguagem humana.

O naturalismo como disciplina de pensamento e da consciência perceptiva é um programa ambicioso e exigente que ultrapassa de longe as balbuciantes perspectivas ecológicas de hoje. Trata-se de lutar muito mais contra a poluição subjetiva do que contra a poluição objetiva - a poluição dos sentidos e do cérebro contra aqueda do ar e da água.

Um contexto tão excepcional como o do Amazonas suscita a idéia de um retorno à natureza original. A natureza original deve ser exaltada como uma higiene da percepção e um oxigênio mental: um naturalismo integral, gigantesco catalisador e acelerador das nossas faculdades de sentir, pensar e agir.

Pierre Restany

Alto Rio Negro, quinta-feira, 3 de agosto de 1978.
Na presença de Sepp Baendereck e Frans Krajcberg.
P. Restany & F. Krajcberg F. Krajcberg & S. Baendereck


Publicado em 17/10/2013- Licença padrão do YouTube
 http://www.frans-krajcberg.com/fkmanifesteportugues.html
 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,krajcberg-e-seu-grito-pela-natureza,702683,0.htm

Nenhum comentário: